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“Temos procurado alternativas de sourcing aos modelos de compra tradicionais, assim como veículos de marcas que habitualmente não estão no nosso radar de aquisição.”

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Eduardo Rodrigues é o responsável pela área de procurement da LeasePlan. Conhecedor dos múltiplos problemas que esta crise tem gerado, explicou-nos nesta entrevista o impacto na empresa, o que está a ser feito pelo seu departamento e quais as perspetivas para 2023.
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Invariavelmente, começámos a nossa conversa com Eduardo Rodrigues olhando para os primeiros dias da pandemia, para a crise dos semicondutores, para a disrupção nas cadeias de distribuição, subida do preço das matérias primas e desde março para a guerra na Ucrânia e a consequente inflação. Um conjunto de fatores que desencadearam uma crise de escassez de automóveis, que o diretor da área de procurment LeasePlan tão bem conhece...

Eduardo Rodrigues: Sim, este é o enquadramento para a situação que estamos a viver. A pandemia criou uma crise na indústria dos semicondutores. A produção foi reduzida substancialmente, devido ao confinamento e encerramento de fábricas. Com o teletrabalho, os semicondutores acabaram por ser canalizados para as indústrias tecnológicas, cuja procura disparou. Com o atenuar da pandemia era expectável alguma retoma do mercado, mas o conflito na Ucrânia veio agravar ainda mais a situação.

Como é que o conflito na Europa complicou a situação?

E.R.: O impacto da guerra na Ucrânia já não teve tanto que ver com os semicondutores, mas com outro tipo de componentes. Refiro-me às cablagens, peças de eletrónica e mais recentemente aos vidros. Temos de juntar a isto a escassez global de matérias-primas como o lítio, níquel e magnésio, que são fundamentais à produção automóvel.

Mas a rede de distribuição de bens e serviços, também tarda em voltar ao normal...

E.R.: É verdade. A disrupção nas cadeias de fornecimento tem contribuído para uma quebra acentuada da produção automóvel, o que tem criado esta situação inédita que estamos a viver de escassez de veículos no mercado. Depois, o aumento dos custos de produção, das matérias-primas e da logística envolvida tem levado a sucessivos aumentos no preço dos veículos.

Quando é que começaram a sentir os primeiros sinais deste problema?

E.R.: Sentimos os primeiros sinais logo no final do primeiro trimestre de 2021. Sobretudo com o aumento notório dos prazos de entrega de veículos, o que indiciava grandes dificuldades de produção.

Este problema vai além dos atrasos nas encomendas. Toca também as peças de substituição, reparações, veículos de substituição, seguros... Pode explicar-nos todas as implicações desta crise?

E.R.: É certo que este problema vai muito para além dos atrasos nas encomendas, este problema impacta também com gravidade ao nível do pós-venda, designadamente com aumentos de preço muito consideráveis, com a frequente falta de peças e com o agravamento dos tempos de imobilização dos veículos em oficina. O nosso serviço de veículo de substituição tem sido igualmente prejudicado, na medida em que os nossos parceiros de rent a car são igualmente afetados pela escassez de veículos no mercado e não conseguem por vezes responder à procura. Também a assistência em viagem está a sentir alguma dificuldade em assegurar os habituais níveis de serviço por menor capacidade da rede de parceiros rebocadores, sobretudo fora das zonas urbanas.

Em concreto, do ponto de vista do procurement, a sua área de responsabilidade, de que forma é que este problema vem penalizando a atividade da LeasePlan?

E.R.: Por um lado, a escassez de veículos novas compromete a renovação das frotas dos nossos Clientes, e, consequentemente impacta negativamente no volume de compras e no poder negocial da LeasePlan. Face ao atraso verificado nos prazos de entrega, a solução encontrada tem passado sobretudo pelo prolongamento dos prazos dos contratos com os Clientes, que vem originar um envelhecimento da frota e um aumento considerável dos custos de manutenção. Por outro lado, o aumento dos custos de produção tem gerado aumentos de preços dos veículos e redução de descontos por parte das marcas automóveis, que se tem traduzido num ambiente de grande instabilidade e imprevisibilidade.

Enquanto responsável pelo Procurement, quais as iniciativas que desencadearam para tentar atenuar o impacto desta crise?

E.R.: Temos vindo a adoptar um conjunto de medidas para mitigar o impacto desta crise. Desde logo, nos veículos novos, temos procurado alternativas de sourcing aos modelos de compra tradicionais, assim como veículos de marcas que habitualmente não estão no nosso radar de aquisição. O aumento dos prazos de entrega obrigou-nos a rever também o acompanhamento das datas estimadas, por forma a podermos prestar informação atualizada aos nossos clientes. No pós-venda, temos promovido uma maior proximidade junto da rede de prestadores de serviços. Queremos dar o suporte necessário para garantir os níveis de serviço habituais LeasePlan. Em alguns casos, reforçamos a rede de prestadores, justamente para assegurarmos os níveis de serviço que o mercado espera de nós.

Esta situação tem gerado problemas na vossa relação com as marcas?

E.R.: Continuamos a apostar numa relação de cooperação com as marcas. Mas é verdade que estas têm alterado as suas políticas comerciais de forma unilateral. Nomeadamente, com redução de descontos, o que por vezes cria alguma fricção conosco e depois com os nossos clientes. É que, no fundo, as marcas estão a desvincular-se de compromissos assumidos meses antes, quanto às condições comerciais. Mas temos trabalhado em conjunto para encontrar as melhores soluções, pois como sabemos a LeasePlan não produz automóveis e depende das marcas.

Pensando em 2023, como estão a trabalhar com as marcas para atender a todas as necessidades?

E.R.: Apesar do clima de incerteza que marca este ano, temos procurado antecipar o planeamento de encomendas. Ou seja, estamos a assegurar produções para os nossos clientes o que é um aspecto chave neste momento.

Consegue antever uma solução para esta crise? Tem sinais que permitam acreditar que em 2023 ou 2024 a situação estará regularizada?

E.R.: Pelo contacto que temos com as marcas e pela informação que temos reunido, não nos parece que esta crise venha a resolver-se no curto ou médio prazo. O ano de 2023 não vai ser muito diferente daquilo que já conhecemos. As fábricas vão estar a produzir sobretudo para satisfazer as carteiras de encomendas. Por outro lado, a guerra na Europa e a ameaça de uma crise energética são aspectos que a qualquer momento podem baralhar ainda mais a situação.

A LeasePlan está comprometida com o sucesso dos seus clientes, o que naturalmente também passa pela mobilidade. A fechar esta entrevista, que mensagem é que gostaria de lhes deixar?

E.R.: Os nossos Clientes podem continuar a contar com a LeasePlan, como até agora! A LeasePlan continua focada em encontrar as melhores soluções de mobilidade adequadas a cada Cliente e a oferecer os níveis de serviço habituais. Apesar do contexto adverso que vivemos, continuamos igualmente empenhados para suportar os nossos Clientes no desafio que representa a transição para a eletrificação das suas frotas.

Publicado em {data}
9 de março de 2023
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