LeasePlan

“(...) os clientes já perceberam que a escassez de automóveis no mercado ultrapassa-nos por completo.”

8 min de leituraRenting
É o tema do momento: não há automóveis para entrega e a LeasePlan tem feito de tudo para mitigar o impacto deste problema na mobilidade e na operação dos seus clientes. Ricardo Silva, enquanto Diretor Comercial, tem estado na linha da frente desta crise, na apresentação das soluções possíveis e no esclarecimento de todos os detalhes de uma situação que ultrapassa por completo a própria LeasePlan.
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Os dias têm sido muito desafiantes para Ricardo Silva e para toda a equipa. O mercado desespera por carros novos, pelo regresso à normalidade, mas a escassez de produto parece estar para durar. As palavras do Diretor Comercial da LeasePlan, que ouvimos na primeira pessoa, revelam alguma preocupação, mas também uma forte determinação em continuar a fazer de tudo para garantir os níveis de serviço a que o mercado se habituou.

Para contextualizar quem nos lê, estamos de acordo que este problema está relacionado com a pandemia, com a crise dos semicondutores, disrupção nas cadeias de distribuição, subida do preço das matérias-primas e desde março de 2022 com a guerra na Ucrânia e a consequente tendência inflacionista que se gerou...

Ricardo Silva: Sim, sem dúvida. Tínhamos a expectativa de que seria um problema circunstancial, relacionado com a pandemia, mas acabou por se agravar. Ainda durante a pandemia, como todos observámos, a produção automóvel caiu e os stocks de componentes, como os semicondutores, também começaram a ser canalizados para indústrias que estavam mais ativas. Isto, naturalmente, começou a gerar escassez de produto na indústria automóvel. Já este ano, a guerra na Europa e a inflação vieram agravar o problema.

Quando é que começaram a sentir os primeiros sinais deste problema?

R.S.: Ainda durante a pandemia já se sentia a escassez. No entanto, como já referi, tínhamos a expectativa de que uma vez ultrapassada a crise sanitária que estávamos a viver, poderíamos voltar progressivamente à normalidade. Isso não só não aconteceu, como a situação ainda se agravou.

“Ainda durante a pandemia, como todos observámos, a produção automóvel caiu e os stocks de componentes, como os semicondutores, também começaram a ser canalizados para indústrias que estavam mais ativas. Isto, naturalmente, começou a gerar escassez de produto na indústria automóvel.”

Essa expectativa de recuperação é comum a todas as subsidiárias LeasePlan?

R.S.: Há algumas diferenças, que condicionam um país como Portugal. Os nossos colegas do Norte da Europa estão um pouco mais otimistas, mas nós não sentimos sinais muito positivos. Importa ter em conta que vivemos num país pequeno, com um mercado periférico, de pequena escala e de margens baixas. Por isso, é um mercado pouco interessante para a indústria automóvel, pelo que estaremos sempre no fim da linha em termos de distribuição de automóveis.

...é preocupante. Em vez de recuperar, a situação tem-se agravado...

R.S.: É verdade. Nós não só não vemos desanuviamento, como somos testemunhas de algum agravamento. Por exemplo, setembro deste ano foi mesmo o mês com mais adiamentos de entregas de veículos que já estavam com data prevista de entrega para esse mês.

Para o curto e médio prazo, qual a informação que têm recebido por parte das marcas?

R.S.: Temos recebido informação de que no início de 2023 terão condições para entregar mais produto. Mas isto não quer dizer que haverá mais carros disponíveis, pois trata-se de automóveis que já estão vendidos. E vai ser assim nos próximos meses, porque todo o produto que vier já está vendido. Mas sim, acreditamos que serão entregues mais carros. Isto será importante para quem já está há algum tempo à espera do automóvel que encomendou. Mas para quem vai precisar de um carro e o quiser comprar em 2023, não vai mudar nada. Vai ter de continuar a esperar em média seis meses.

O atual cenário de inflação poderá permitir algum equilíbrio entre a oferta e a procura...

R.S.: É uma possibilidade, mas não podemos esquecer que levamos já três anos de escassez de automóveis no mercado. Portanto, ainda assim, vamos levar algum tempo a recuperar. A situação pode mudar, mas acreditamos que 2023 vai ser muito semelhante a 2022 em termos de escassez na chegada de automóveis novos ao nosso mercado.

Este problema vai além dos atrasos nas encomendas. Envolve também as peças, reparações e veículos de substituição... Pode explicar-nos todas as implicações desta crise?

R.S.: Sem dúvida. Para além da falta de automóveis há outras situações que contribuem para transformar esta crise numa bola de neve. Por exemplo, a disrupção nas cadeias de logística tem um enorme impacto na entrega de peças. Por sua vez, a escassez de peças leva a períodos de imobilização de automóveis para reparação mais alargados. E esses períodos de imobilização mais dilatados exigem veículos de substituição, que as empresas de rent-a-car não dispõem. Também não os conseguem adquirir ou não têm disponibilidade devido à enorme procura relacionada com a recuperação do turismo no nosso país. Julgo que o que acabei de explicar ilustra bem como este problema tem inúmeras ramificações.

...e os vossos clientes têm a noção da dimensão desta crise? Percebem que se trata de algo que está a afetar o mundo inteiro? Que por si só a LeasePlan não tem como a resolver?

R.S.: Sim, é cada vez mais claro para os nossos clientes que estamos a viver uma crise à escala global. Nem sempre foi assim, demorou algum tempo até terem a noção exata do impacto do problema e da extensão da sua duração. Apesar do nosso trabalho de informação permanente, alguns dos nossos clientes estavam convencidos de que o problema ia resolver-se com rapidez. Julgo que hoje já perceberam que não vai ser assim e há também uma maior consciência para todas as ramificações desta crise. Como já vimos, o problema não é só não haver carros novos para entregar. São as implicações em toda a cadeia de serviço. Um cliente pode não compreender por que é que um carro demorava seis dias a ser reparado e agora leva 15 dias. Também pode ter dificuldade em compreender por que razão precisa de marcar um carro de substituição com muitos dias de antecedência, quando antes o podia fazer de véspera.

“(...) vivemos num país pequeno, com um mercado periférico, de pequena escala e de margens baixas. Por isso, é um mercado pouco interessante para a indústria automóvel, pelo que estaremos sempre no fim da linha em termos de distribuição de automóveis”.

Sente, então, que a vossa comunicação com os clientes tem sido eficaz...

R.S.: Temos apostado muito na comunicação, para conseguir explicar aos nossos clientes e em detalhe o que se está a passar. Além dos clientes, também queremos chegar aos seus stakeholders internos. É que muitas vezes, num cliente frotista, o gestor até está informado. Mas o condutor não. É por isso que delineamos um plano de comunicação, capaz de fazer chegar a informação com a regularidade necessária a todas as partes interessadas. Acredito que a mensagem está a passar. Ninguém está satisfeito com este problema e com esta situação, mas os clientes vão percebendo que se trata de uma crise muito vasta e que ultrapassa a LeasePlan por completo.

“Temos apostado muito na comunicação, para conseguir explicar aos nossos clientes e em detalhe o que se está a passar. Além dos clientes, também queremos chegar aos seus stakeholders."

Em concreto, de que forma é que este problema penaliza a operação da LeasePlan?

R.S.: Desde logo, penaliza-nos na cadeia de valor, pois não conseguimos entregar carros novos. Depois, exige-nos períodos mais alargados de imobilização – para reparações – e a consequente necessidade de veículos de substituição por um tempo mais prolongado.

Quais as medidas que têm implementado para conseguir mitigar o impacto desta crise?

R.S.: Ao longo dos últimos meses implementámos várias medidas que foram sendo muito úteis para os nossos clientes. A mais óbvia foi prolongar os contratos de renting, o que teve duas virtudes. Primeiro, permitiu às empresas ter carros para circular. Depois, como os carros novos estão mais caros, permitiu alguma flexibilidade em termos de orçamento. Nos casos em que os clientes não têm carro, temos trabalhado com eles no sentido de se anteciparem as encomendas dos automóveis que necessitam. E enquanto esses carros não chegam, temos disponibilizado a frota LeasePlan, que criámos para este efeito. Também oferecemos o FlexiPlan, um produto de curta duração ou para momentos de incerteza, que permite o aluguer até dois anos. Temos ainda no nosso showroom, especialmente dirigido para PME e particulares, com carros que já comprámos há algum tempo e que estão disponíveis para entrega imediata. Estamos ainda a dinamizar o renting de usados, um produto relativamente novo. São carros que temos em carteira e que em vez de os vendermos, porque estão em condições para isso, voltamos a alugar.

“Acreditamos que em 2023 serão entregues mais carros. Isto será importante para quem já está há algum tempo à espera do carro que encomendou. Mas para quem vai precisar de um carro e o quiser comprar em 2023, não vai mudar nada. Vai ter de continuar a esperar pelo menos seis meses."

Também procuraram inovar, com a entrega de vouchers TVDE...

R.S.: Sim. Para além das medidas circunstanciais que referi, temos algumas iniciativas que se destinam a garantir a mobilidade dos nossos clientes. Uma delas, relacionada com os veículos de substituição, é a atribuição de vouchers TVDE. Alargámos também a nossa rede de parceiros de rent-a-car, o que nos tem ajudado a aumentar a capacidade de resposta. Temos aconselhado também os clientes a evitar os períodos de verão, para fazer intervenções nos automóveis. São momentos de maior procura nas empresas de rent-a-car – devido ao turismo ­– e nos quais a escassez automóvel se agrava.

Consegue antever uma solução para esta crise? Há sinais de que em 2023 ou 2024 a situação estará regularizada?

R.S.: Com a informação de que dispomos, esta escassez de automóveis vai manter-se. O ano de 2023 vai ser muito semelhante ao de 2022. No ano seguinte, em 2024, já será melhor, mas tudo depende das circunstâncias e da evolução dos indicadores macroeconómicos. Mas, como já testemunhámos nos últimos anos, é tudo muito relativo. Vivemos um tempo de grande instabilidade e incerteza, em que os cenários podem alterar-se rapidamente.

“Com a informação de que dispomos, esta escassez de automóveis vai manter-se. O ano de 2023 vai ser muito semelhante ao de 2022."

A LeasePlan está comprometida com a sua qualidade de serviço e com o sucesso dos seus clientes. A fechar esta entrevista, neste contexto tão difícil, que mensagem é que gostaria de deixar?

R.S.: Aproveito a oportunidade para dizer aos nossos clientes que temos a noção do padrão de excelência de serviço a que os habituámos e que não estamos satisfeitos nem confortáveis com esta situação. Mas temos um sentido de missão em relação ao serviço que queremos prestar e isso não vai mudar. Enquanto especialistas, também queremos continuar a aconselhar os nossos clientes e isso também não se vai alterar. Portanto, aquilo que é o ADN da LeasePlan não vai mudar. Hoje como ontem, estaremos sempre aqui para os ajudar a ultrapassar os desafios que tivermos pela frente.

Publicado em {data}
10 de fevereiro de 2023
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