
“As empresas de renting continuam com a atividade em pleno e a fazerem o seu papel de parceiros de mobilidade."
Luís Augusto é o Presidente da Associação Portuguesa de Leasing, Factoring e Renting (ALF). Nesta entrevista deixou-nos a sua perspetiva sobre a crise de falta de automóveis, que está a afetar de forma severa muitas das empresas suas associadas.
Como todos sabemos, a escassez de produto automóvel tem sido muito evidente. De que forma é que esta crise afeta o setor do renting e as empresas que operam neste segmento de negócio?
Luís Augusto: Desde o início da pandemia que o setor do renting se depara com o problema da crise dos semicondutores, devido ao abrandamento da atividade económica e a uma corrida a produtos que precisam destes componentes, durante os meses em que tudo se fazia à distância. A guerra na Ucrânia e as consequentes quebras nas cadeias de abastecimento e aumento dos preços das matérias-primas vieram adicionar ainda mais desafios para as empresas no setor automóvel. As empresas de renting associadas da ALF têm demonstrado uma grande resiliência e capacidade de adaptabilidade face a estes constrangimentos, procurando soluções alternativas e aproveitando as economias de escala que possuem, gerindo mais de 120 mil veículos ligeiros, para encontrar soluções para os seus clientes e ajudar a colmatar as consequências deste contexto. Os clientes que recorrem ao renting estarão certamente mais confortáveis e apoiados nas suas necessidades de mobilidade do que se não recorressem ao renting.
Consegue antever uma solução para esta crise? Em 2023 ou 2024 a situação estará regularizada?
L.A.: Com a guerra da Ucrânia sem fim à vista, a crise energética na Europa, a inflação ainda crescente e as cadeias de produção afetadas, ainda não existem previsões para regularização no curto prazo. Apenas a partir de 2024 será possível termos previsões para o retorno ao “normal”, dependentes sempre também da evolução da guerra na Ucrânia e da pandemia, que neste momento são as variáveis que causam pressão negativa nas cadeias de abastecimento e distribuição. A abertura de novas fábricas de semicondutores e a normalização das rotas logísticas poderão contribuir para aliviar parte dos constrangimentos.
Quais são as maiores preocupações dos seus associados de renting? L.A.: Ao nível da atividade, as maiores preocupações são o acesso a veículos novos e o aumento dos custos de manutenção, que tem impacto direto no negócio dos associados. Ao nível mais técnico, temos naturalmente preocupações que giram em torno de serviços prestados por entidades públicas, nomeadamente com o IMT, IRN, questões fiscais junto da Autoridade Tributária e de alguns ministérios do governo, entre outras, para as quais a ALF contribui como interlocutor junto dessas entidades. Outra grande preocupação é assegurar que as políticas públicas contemplam o renting, como por exemplo, zonas de emissões reduzidas ou de limitação de acesso automóvel, em que a ALF também se coloca em ação no terreno para assegurar que não se geram entropias.
De que forma a ALF tem atuado por forma a apoiar os seus associados, nomeadamente do renting?
L.A.: A ALF tem reunido com membros do governo para apresentar várias propostas que consideramos benéficas para os nossos associados e para a economia nacional. Na proposta de Orçamento do Estado para 2023, vimos uma dessas propostas ser contemplada, introduzindo a equidade de tratamento da locação operacional em sede dos benefícios concedidos pelo código do ISV. Esta alteração, poderá permitir que diversas entidades possam passar a considerar também o renting e, desta forma, aumentar a concorrência e a diversificação de produtos ao seu dispor. Também a redução das taxas de tributação autónoma em veículos cumpridoras das normas EURO mais recentes tem sido muito preconizada pela ALF como medida de incentivo à renovação da frota automóvel das empresas portuguesas, numa lógica de transição gradual e sustentável. Para além de atuar como porta-voz de medidas junto das entidades oficiais, a ALF promove espaços de encontro e reflexão conjuntos para os seus associados, ações de formação e divulgação de novidades ao setor. Existe um trabalho muito próximo dos associados para que a Associação esteja efetivamente ao serviço das suas necessidades mais prementes e ajustada à realidade.
Olhando para o ano de 2023 e para o contexto económico adverso que estamos a viver, como é que o renting pode ajudar os clientes a lidar com uma situação de crise económica?
L.A.: O renting permite aos seus clientes, sejam eles empresas, entidades públicas ou particulares, fazer uma previsão do custo mensal da utilização dos seus veículos e externalizar todos os custos com a gestão da frota automóvel, transformando os custos variáveis em custos fixos. Num cenário de grande volatilidade é extremamente importante. O renting é também um dos principais meios de acesso a veículos elétricos e híbridos, responsável pela renovação das frotas automóveis em Portugal, contribuindo assim para a redução da idade média do parque automóvel nacional e aumento da utilização de veículos mais eficientes e, consequentemente, mais económicos. Para além de todos os serviços disponibilizados, existe ainda o aconselhamento especializado quer nos aspectos técnico-operacionais dos veículos mais adequados para as necessidades da empresa, quer também do ponto de vista fiscal, o que é extremamente útil em Portugal com as alterações constantes que se implementam. Neste ano de 2023, em que provavelmente vamos continuar a contar com grandes incertezas, o renting permite trazer certezas e custos fixos certos aos seus clientes. E proporcionar previsibilidade, num momento destes, tem um elevado valor.
As empresas do setor estão algo inquietas com esta crise. Enquanto Associação, que mensagem é que gostavam de deixar?
L.A.: O setor do renting tem uma grande resiliência e capacidade de adaptabilidade, tal como já frisámos. Nos últimos 15 anos já passámos por duas grandes crises e, em ambas, o renting continuou a apoiar as necessidades das empresas e dos particulares, nos veículos ligeiros, e este contexto pelo qual atravessamos não será diferente. As empresas de renting continuam com a atividade em pleno e a fazerem o seu papel de parceiros de mobilidade e a encontrarem soluções para as necessidades dos seus clientes.